TESES DE DOUTORADO

IZADORA ACYPRESTE

OS PÉS DA MEMÓRIA: UMA ETNOGRAFIA SOBRE AS PLANTAS, O GADO E O TEMPO NA BEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO

(2021)

Esta tese busca discutir, através de uma abordagem sobre as plantas, sobre o gado e sobre o tempo, como a vida dos quilombolas ribeirinhos é produzida através de contínuos engajamentos multiespecíficos. Moradores das áreas de beira do rio São Francisco, os quilombolas de Sangradouro Grande, Croatá, Gameleira e Várzea da Cruz, comunidades localizadas no município de Januária, Norte de Minas Gerais, destacam a importância mesma do rio na constituição da paisagem, que também é produzida pela convivência cotidiana entre pessoas, plantas e outros viventes. Portanto, é através dos engajamentos entre pessoas e estes outros viventes que podemos compreender a estórica de constituição da paisagem, que envolveu, e ainda envolve, diversas movimentações, acolhidas, ajudas, entre outras trocas recíprocas entre humanos e não humanos. Mas esta paisagem vem mudando com a passagem dos tempos, mudanças que podem ser observadas a partir da convivência com os viventes do lugar e contra as quais também pode-se resistir através das alianças com eles. Estando as plantas profundamente entrelaçadas com a forma com que os quilombolas ribeirinhos compreendem seus territórios, a proposta é descrever estas diferentes conexões que elas estabelecem com a vida daqueles que, juntamente a elas, coabitam a beira do rio. Assim, estas “coisas maravilhosas” ou “amores de coisa”, como dizem o povo da beira do rio, nos servem aqui não apenas como ponto de partida, mas também como fio condutor que conecta as diferentes discussões que compõem a tese. Através dessa abordagem, espera-se captar os aspectos mais sensíveis da forma como os moradores locais pensam e se relacionam com os pés, e como, a partir dessa relação, eles concebem e produzem outros aspectos de suas vidas. Em suma, propõe-se compreender o que as relações multiespécies dizem sobre o modo de vida, a estórica, as territorialidades, e a convivialidade geradora de laços de pertencimento entre os habitantes destas comunidades quilombolas ribeirinhas.

Palavras-chave: Quilombos, rio São Francisco, etnografia multiespécie, plantas, gado, tempo.