Dissertações de mestrado

O início do século XX trazia a descoberta – talvez invenção – da habilidade dos mosquitos de transmitir patógenos. Ocupando, desde então, espaço de destaque na literatura médica, os estudos sobre esses insetos sempre operaram sob o imperativo da erradicação das doenças – e dos vetores dos patógenos que ocasionam essas doenças. Ecoando, nos dias de hoje, tal recorrência, o sertão nordestino passou a ser alvo de investigações epidemiológicas, sobretudo após os frequentes casos de zika em gestantes e a transmissão vertical causando microcefalia em bebês, expressivamente nos sertões da Paraíba e de Pernambuco. Este trabalho constitui de uma etnografia realizada nos arredores da Unidade de Conservação Monumento Natural Grota do Angico (MONA), situada às margens do Rio São Francisco, no alto sertão sergipano. Numa convivência de aproximadamente 60 dias não consecutivos com uma família ribeirinha de pescadores, realizei uma incursão etnográfica, à luz da etnografia multiespecífica, abordando as relações entre sertanejos e mosquitos. Discursos e práticas nativas, assim, apontaram para os insetos como componentes de uma caatinga que sofre e faz sofrer, sendo a sua agência vetorial apontada como característica somente daqueles mosquitos das cidades, com seus venenos e esgotos. Proponho, então, uma abordagem mais que vetora para esses insetos de forma a reivindicar uma ecologia de mosquitos para além das preocupações epidemiológicas a eles historicamente relacionadas.

Palavras-chave: mosquitos; etnografia multiespécies; insetos vetores; sertão; ciência.