Esta dissertação é fruto de pesquisa de campo cujo objetivo foi o estudo das relações entre humanos (especialmente mushers e turistas) e cães de trenó – que são, da perspectiva dos mushers, cães de trabalho – na atividade turística em Ushuaia (capital da Província da Terra do Fogo/Argentina), concentrando a etnografia, para tal, nas relações práticas e semióticas envolvidas nos passeios turísticos de trenó, na criação dos cães e no Encuentro Musher, pequena corrida de trenós local. Para além dos cães de trenó, no entanto, deparei-me, na Terra do Fogo, com vários outros cães em outros contextos, como os cães abandonados nas ruas de Ushuaia e os “cães selvagens” – que constituem um grande problema socioeconômico e, portanto, são passíveis de ser eliminados. Nesse sentido, sugiro que, em terras fueguinas, os diferentes estatutos dos cães (que vão do doméstico/de trabalho ao selvagem/feral, passando por categorias intersticiais) flutuam de acordo com a existência (ou não) de uma “função” social, quer seja, o trabalho animal. Deste modo, argumento que só é possível pensar os cães de trenó por meio da reflexão sobre estes outros cães que compõem as relações entre humanos e animais nesta porção do planeta. O escopo desta dissertação foi, então, a elaboração de uma etnografia multiespecífica que levasse em conta tanto humanos quanto cães (e trenós), bem como de uma reflexão sobre o trabalho animal, suas possibilidades e seus limites.

Palavras-chave: humano-animal; cães; cães de trenó; trabalho animal.

Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

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