Dissertações de mestrado

Inicialmente, esta era uma pesquisa sobre as “classificações” dos seres que a nossa biologia ocidental denomina como “aves” a partir das perspectivas práticas e semióticas do povo indígena Kujubim (Rondônia) – grupo, até aqui, desconhecido pela etnologia nas Terras Baixas da América do Sul. Entretanto, ao realizar uma pesquisa de campo de seis meses com este povo e acessar diversas categorias nativas, por meio de uma série de equívocos e das dissonâncias entre categorias científicas e Kujubim, o que encontramos e conhecemos não foram “aves”, mas bichos-de-pena. Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é o de produzir uma “etnografia multiespécie” em torno das práticas, do conhecimento e das relações deste povo com os bichos-de-pena e, neste sentido, esta é, também, uma “etnografia das relações”. São relações, como veremos, que possibilitam que os Kujubim “classifiquem” os bichos-de-pena. Ali, não existe um “sistema classificatório”, tampouco categorias que condicionam e definem os seres permanentemente, mas, antes, relações (entre os seres e entre categorias) que permitem que eles possam transitar, ou, como sugerimos, se “transformar” no mundo e no pensamento Kujubim. O se “transformar” aqui, não possui o sentido atribuído à metamorfose, mas diz respeito a um aspecto onde se pode dizer que tudo está, e nada é: entre os Kujubim, bichos-de-pena nunca são, de fato, no sentido de uma condição, mas sempre tendem a ser ou estão, no sentido de um estado: ali, nada é, tudo está em permanente devir, tudo é transqualitativo, tudo é, afinal e como sugerimos, “antitaxonomico”.

Palavras-chave: Etnologia Indígena; Classificações; Relações humano-animais; Kujubim; Rondônia.

Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).