Pés de Fruta, Pés de Planta e Pés de Árvore: uma etnografia do cotidiano nas comunidades negras rurais do sertão norte mineiro

IZADORA ACYPRESTE

Através da abordagem sobre as plantas, sobre o gado e sobre o tempo, a pesquisadora vem discutindo como a vida dos quilombolas norte mineiros é produzida através de contínuos engajamentos multiespecíficos. Por serem habitantes das áreas de beira do rio, seus interlocutores destacam a importância mesma do rio na constituição da paisagem, que também é produzida pela convivência cotidiana entre pessoas, plantas e outros viventes. É através destes engajamentos que os quilombolas norte mineiros contam sobre a estórica de constituição da paisagem, que envolveu, e ainda envolve, diversas movimentações, acolhidas, ajudas, entre outras trocas recíprocas entre humanos e não humanos. Mas esta paisagem vem mudando com a passagem dos tempos, mudanças que são observadas pelos quilombolas ribeirinhos a partir de suas convivência com os viventes do lugar e contra as quais também pode-se resistir através das alianças com eles. Dada a importância destes engajamentos no contexto estudado, a pesquisadora busca compreendê-los, dando atenção aos aspectos mais sensíveis da forma como seus interlocutores pensam e se relacionam com os outros viventes. Ao fazer isso, busca também compreender como, a partir destas relações, os quilombolas produzem outros aspectos de suas vidas. Em suma, vem buscando compreender o que as relações multiespécies dizem sobre o modo de vida, a estórica, as territorialidades, e a convivialidade geradora de laços de pertencimento entre os habitantes destas comunidades quilombolas ribeirinhas.