Multiplicam-se muito nestas terras. Os animais exóticos entre povos indígenas no Brasil

Felipe vander velden

Este projeto de pesquisa trienal busca seguir com a investigação, a partir de extensa coleta de dados e revisão bibliográfica e documental, da difusão, introdução, adaptação, circulação e uso de animais de origem exótica (europeia) entre os povos indígenas no Brasil, de modo a constituir um completo panorama dos impactos materiais (produção, territorialidade, cultura material) e simbólicos (mitologia, história, arte) desses seres nas paisagens ameríndias nas terras baixas sul-americanas, segundo nove eixos preliminares de investigação previamente definidos. A partir da coleção e análise do aparecimento e da incorporação desses seres ? a saber, galinhas, bois, cavalos, cabras, bodes, porcos, cachorros, gatos (espécies domesticadas), ratos e pombos (sinantrópicos invasores) ? nos mais distintos povos ameríndios no Brasil, espera-se extrair uma (ou múltiplas) história(s) alternativa(s) desses seres adventícios no território nacional, bem como compreender as linhas gerais que, a partir do pensamento ameríndio (conforme vem sendo caracterizado pela etnologia regional, sobretudo através dos trabalhos de Eduardo Viveiros de Castro, Philippe Descola e outros), podem caracterizar a aclimatação dessas espécies nas cosmologias e práticas sociais indígenas, configurando novas ou renovadas formas de conhecimento zoológico e mesmo zootécnico e veterinário, bem como construções distintas (ameríndias) do fenômeno da domesticidade. Espera-se, com isso, aliar os estudos em etnologia americanista com as pesquisas antropológicas sobre as relações entre humanos e animais, dois campos que, em que pese a centralidade dos não humanos na vida nas aldeias e nas cosmologias indígenas, ainda pouco dialogam na antropologia.

Bolsa de Produtividade PQ 1/CNPq (2019-2021).