Animal de papel: a atuação dos animais na literatura regionalista sertaneja

Ariane Vasques Zambrini

A literatura regionalista é definida por críticos literários, em termos gerais, como um conjunto de obras que dizem respeito a uma determinada região do país. No entanto, mais que tratar de assuntos acerca de um lugar, de um grupo de pessoas e seus modos de viver, certas características dessa produção a especificam como um gênero literário. No caso da literatura regionalista nordestina, os traços comuns que caracterizam este movimento são as descrições da paisagem sertaneja, dos seres que nela habitam, das existências e experiências humanas. Sendo assim, em que medida esse registro literário pode nos informar sobre as relações multiespecíficas criadas no sertão nordestino? Considerando esses relatos histórico-literários como forma de conhecimento, o objetivo desta pesquisa é investigar de quais modos uma categoria de animal pode ser produzida por “estudiosos brasileiros” (Cascudo, 1944) e cientistas sociais, ao considerarem aspectos da historiografia regional e suas implicações políticas e econômicas. A fim de evitar anacronismos e ciente do caráter relacional e fragmentário da história, busca-se compreender a categoria de animal conforme descrita em um conjunto bibliográfico específico, atenta aos agenciamentos internos da própria produção textual da época. No mais, pretende-se questionar de quais maneiras os discursos acerca da pecuária colonial, conforme descrita nesse escopo bibliográfico, estão imbricados com os enunciados de incentivo ao agronegócio no nordeste.